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Cachoeira do Sul
6 de dezembro de 2024
Diocese de Cachoeira do Sul

Marca das Cinzas

Mons. Elcy

Os garis varriam e amontoavam toneladas de lixo nas ruas da cidade. O rastro do carnaval deixara o ambiente saturado e poluído. Nas casas, as mães rogavam aos seus filhos para que deixassem as camas, porque o dia já ia pela sua metade. A ressaca era enorme e se somava ao cansaço gerado pelo excesso de agitação. O corpo estava estafado e na boca ficou um gosto amargo regurgitado do estômago revoltado.

E o carnaval passou. Muitos, agora, prefeririam não ter se empolgado tanto, se excedido ao extremo das capacidades; talvez agora estivessem mais paz, menos sono, mais disposição para o trabalho, menos preguiça, mais vontade de viver sem tanto desânimo.

Caminhando pelas ruas da quarta-feira, evitando se manear nas serpentinas, limpando os pés dos confetes, me dirigi para o templo para receber as cinzas. A cinza é um sacramental que revela minha disposição para voltar à normalidade de uma vida mais humana, mais divina, mais normal e um afastamento de tudo que possa gerar remorso por ter prejudicado sua qualidade. Serão 40 dias de exercício de purificação num SPA para a alma e para o corpo; uma volta ao equilíbrio necessário à saúde consistente; uma conversão ao projeto de Deus sonhado para seus filhos.

As cinzas que a Igreja coloca sobre nossas cabeças é um sinal que lembra nossa limitação vital, que fisicamente não somos perenes. É mais para alertar que para assustar. Ativa a consciência para o que é mais importante e para os valores a serem cultivados para não desperdiçar o tempo disponível de nossa existência no planeta terra.

“Lembra-te que és pó e ao pó tornarás”. Da terra tiramos o necessário para formar o corpo e a ela devolveremos o que nos emprestou. Mas somos muito mais que elementos químicos. Seremos transformados numa etapa mais acima, tão mais perfeita quanto maior o esforço empreendido na sua construção.

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